quarta-feira, 13 de julho de 2011

O preço do medo.

"Tunt, tunt, tunt, tunt, tunt, tunt, tunt, tunt, tunt, tunt, tunt, tunt!" O que poderá ser? Eu só ouço bem lá no fundo e consigo sentir bem forte dentro de mim. Me sinto como alguém deitado no frio e esperando vir ser socorrido, de algo que para quem vê de fora, não é nada grave; só eu sei dessa sensação. Eu já não sei se isso em meus olhos são lágrimas ou a chuva que começou a cair ou, até mesmo, meu suor - de nervoso que estou - escorrendo pelo meu rosto. Eu só consigo me lembrar de que não me lembro como vim parar aqui. Eu costumava a sorrir quando queria chorar e quando queria sorrir eu abraçava e ia repassando um pouco da minha felicidade. Agora eu nem sei mais sentir dor; ter emoção. Deixo tudo seguir. Deixo tudo querer chegar à algum lugar que nem eu sei se quero ir. Alguém virá? Estarei mais protegido aqui sozinho ou se me acharem nesse lugar perdido? Posso querer tudo e nada a mesmo tempo? Sinceramente, eu só queria fechar os olhos e esperar que tudo se resolvesse sem que eu participasse com minhas observações.
Ficar no escuro ou ter a luz forte nos meus olhos, a ponto de me cegar? Por que nesses momentos é que mais pensamos? Deve ser porque não temos nada a perder, por já estarmos perdidos. Vem números, muitos números em minha mente e não sei se é melhor somar, dividir, subtrair ou multiplicar. Por que é tão ruim ficar sozinho? Por que é tão ruim pergunta tanto e não ter respostas? Deve ser porque nesse momento é que eu vejo como é difícil ter que depender de alguém. Um tempo atrás, eu poderia jurar que poderia fazer tudo que quisesse, sozinho. Não posso nem limpar essas gotas em meu rosto.
Incrivelmente o que me apetece neste momento, não servirá de nada se eu não conseguir me livrar dessa situação.
Podem ser imaginações, ou um breve delírio, mas não sinto mais a vibração do "tunt, tunt, tunt" em mim. Como devo reagir? Ou não devo? Ai! Santa dúvida! É. Perguntas sem respostas com dúvidas subliminares me deixam a ver navios. Eu, às vezes, desejo que esse molhado em meu rosto sejam lágrimas para me fazerem lembrar do que faço questão de esquecer, e não sentir. Eu realmente não quero um suor avacalhado pelo medo de não entender, ou saber, e muito menos uma chuva, que supostamente vai poder me afogar, pela minha incapacidade absurda em me mexer.
Agora sim, vejo luzes, muitas luzes. Cores para todos os lados. Cada uma mais brilhante e bonita que a outra. Eu continuo a não entender, mas isso já me agrada e posso sentir meus pés tocando esse sapato apertado. Sinto lá no fundo minha mão sendo tocada de alguma forma, mas não por minha vontade. As unicas coisas que mexem em meu corpo, são meus olhos; vagamente, eu diria. Agora eu me pergunto, o que desde o início eu não queria, eu estou morrendo? Por um momento eu desejei que fosse isso, pois ia me livrar de muitas coisas de uma vez por todas. Mas aí me veio um rosto; um perfume forte. Eu me recordei do que me deixava mais vulnerável. Através dessas minhas palavras, trouxe de volta a vida, que nem sei mais se existia em mim.

"Ouça essas notas. Ahh! Tão perfeitas! Eu não preciso falar nada, elas falam cada vez mais por mim. Eu só peço desculpas, quando você fez perguntas à si mesmo e eu, um tolo, não tive capacidade de imaginá-las. Então você quis me ouvir e só conseguiu quando ouviu a nossa canção. Eu gostaria que entendesse, meu amor, que eu sempre tentei te mostrar o lado mais sincero do nosso amor. Você me fez querer ser um homem que eu nunca pude imaginar que gostaria de ser. Esses seus olhos fizeram-me mergulhar, sem receios, em seu coração, e eu, cego, esqueci algumas vezes de te procurar em mim. Eu quis tanto ser perfeito à você, te dando os melhores significados do meu singelo sentimento, que essa ternura avassaladora me deixou assim, sem você."

Agora sim eu encontrei forças para chorar, para ficar nervoso e suar como um atleta que acabou de correr quilômetros. Minha vontade era de correr, e correr e correr mesmo, para encontrar a unica chave que pode me libertar dessa prisão.
A minha invencibilidade, meu orgulho, meu medo e meu egoismo, me fizeram amar, livre para um, mas calado para o mundo. Agora estou aqui e me faço a unica pergunta que tenho a resposta. Do que adianta eu viver por toda essa vida com medo de ser feliz e só expor meus sentimentos para uma unica pessoa, que me é mais importante, se eu não tenho coragem de ser homem e assumir que o me faz melhor, mesmo indo além das expectativas alheias? A minha resposta? Quero me levantar e viver da maneira que sempre me esquivei. Passar uma vida toda sentindo medo é a mesma coisa que viver por viver. Infelizmente eu esperei chegar a esse estado para pensar assim, mas pelo menos não é tarde. Ou é? Não, não pode! Dessa vez não. Pela primeira vez na vida eu deixei de pensar no que não quero para então entender o que, de fato, eu quero. Sinto agora o "tunt, tunt, tunt" mais forte, tão mais forte, que meus olhos estão ficando embaçados. Não, agora não. Não podem fechar. Eu preciso de forças, preciso sim. Não consigo, já começo perder luminosidade que estava ao meu alcance, para me afogar diretamente nessa escuridão. Uma das últimas coisas que me lembro, é de algumas gotas caindo novamente sobre o meu rosto. Dessa vez foram gotas menos frias. Gotas de desespero.


CONTINUA...